EPÍTOME DA SUBVERSÃO E GUARDIÃO DO TEATRO OFICINA, O GENIAL JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA SEGUE FIRME, FORTE, ABSOLUTO (E MUITO BEM VESTIDO, OBRIGADO) NA BATALHA CONTRA O HOMEM DO BAÚ PARA MANTER SUA RIBALTA, PROJETO DE LINA BO BARDI, EM PÉ
Havia marcado no final de uma sexta-feira para me encontrar com José Celso Martinez Corrêa e, no caminho, lembrei-me da alcunha que o jornalista Telmo Martino, nos longínquos anos 1980, tinha criado para defini-lo: o decano do ócio. Mas Zé Celso, para os íntimos e para todo mundo, é mais que o teatrólogo/agitador cultural/sumo integrante da história do teatro brasileiro que todos conhecemos: ele é um xamã que não pára, e, aos 80 anos completos, tem uma memória quase robótica, apesar do uso constante e assumido da cannabis em doses nada homeopáticas. Nós nos encontraríamos em seus domínios, no Teatro Oficina, no coração do Bixiga, para conversar sobre sua quase quixotesca luta com o apresentador e empresário Silvio Santos. Digo “quase” pois sua história se aproxima mais do discurso de Bertolt Brecht e Antonin Artaud do que de Cervantes, portanto, esta não será uma luta contra moinhos imaginários. Este homem extraordinário lida com dados, fatos e história. Quer deixar um legado maior do que o que já compôs, e neste ponto reforça o depoimento de Marcio Kogan, nesta matéria, que afirma que “as pretensões do Zé Celso quanto ao terreno são obviamente exageradas, mas concordo 100% com tudo”. Cheguei e ele me recebeu junto a uma fotógrafa de um dos maiores jornais do País, que pedia a ele que posasse nu para ela. A resposta foi dura e curta: “Já fiquei muito pelado, agora só mostro o cu”. Todo de branco, com uma espécie de colar cerimonial indígena, me dá seu braço e nos encaminhamos para os fundos do teatro, para ver a área polêmica. Passamos pelo pau-Brasil plantado por Lina Bo Bardi, e ele me explica que aquela árvore é a mãe, é Gaia, e eu naturalmente presto reverência a este exemplar de Caesalpinia echinata. A árvore se faz presente de tal forma que é impossível não se render à sua majestade, e ela ostenta uma faixa de seda rosa em seu tronco, um adereço desnecessário mas paradoxalmente revelador, pois explicita a relação entre os ocupantes do teatro e este representante da pura natureza. Do lado de fora, nos sentamos em duas cadeiras, cercados pelo terreno desocupado e ligeiramente decadente que abraça os limites do Teatro Oficina.
Zé pede que eu acenda seu cigarro – sim, aquele tipo de cigarro –, e me oferece. Recuso solenemente, tenho um trabalho a cumprir, mas, se fosse ayuasca ou outro alterador da realidade, ao lado deste decano do gozo, eu não recusaria nem por um segundo. Pergunto o básico, de imediato: a pendência com Silvio Santos, atual dono do terreno ao redor. O objetivo do apresentador é construir prédios, torres de 100 metros de altura, um shopping, tijolo por tijolo num desenho prático. Diametralmente oposta, a intenção de Zé Celso é cumprir um projeto elaborado por Lina Bo Bardi, literalmente uma ágora contemporânea, um espaço de cidadania com um teatro aberto, um “lugar onde começaria com um teatro aos moldes de Machu Picchu, com degraus lá de cima [e estende os braços apontando o alto do Bixiga, num gesto de elegância teatral], de onde se vê todo o bairro, e viria até aqui onde estamos. Essa área teria uma zona para tendas de até 2 mil lugares, e, nas épocas em que não chovesse, faríamos espetáculos, festivais internacionais… Conservaríamos esta oficina de plantas – nosso projeto é alongar esta área verde; a gente sempre semeia depois dos espetáculos, a gente semeia, semeia…” Zé (a esta altura já estou íntimo e absolutamente apaixonado por sua capacidade de defender essa causa) bate pesado nesta hora: “Querem gentrificar esta área, esta palavra tucana… Chamo mesmo é de genocídio, pois é matar um bairro popular, e querem começar por aqui, isto seria apenas a ponta de lança”.
Pergunto se ele acredita que vá convencer a força da grana que ergue e destrói coisas belas a mudar de ideia. Ele afirma: “Vou vencer. Tenho muito apoio… Essa coisa de querer construir muita torre é uma coisa freudiana, uma coisa fálica – ele não sabe o que fazer, ele acha que isso é progresso. Mas os países desenvolvidos, porra, estão reabrindo os rios, em NY fizeram o High Line, as grandes cidades assinaram esta espécie de acordo tácito, esse compromisso com a natureza… Ele [Silvio] ainda não chegou nisso, ele é um homem do tempo do capitalismo selvagem, ainda está na era rentista, industrial. Só pensa em dinheiro… Como diz o xamã Davi Kopenawa, o homem branco tem uma espécie de cifrão na testa, no lugar de uma cruz. É isso”.
E continua: “Chamam de imbróglio, mas, na verdade, é um ‘desimbróglio’, pois eu sei destrinchar isto com a maior clareza, uma clareza apolínea, cartesiana. Isto não é Zé Celso versus Silvio Santos, é algo muito maior. Tenho um vídeo com ele, na casa dele, dizendo que o nosso projeto era muito melhor do que o dele. Aí veio o impeachment, o Doria e o Alckmin, claro, que apoiam o Temer (outro rentista), e, no que isto aconteceu, ele recebeu o monopólio de fazer o projeto de revitalização do bairro do Bixiga. É uma coisa que não pode acontecer, não vai acontecer”.
QUEREM GENTRIFICAR ESTA ÁREA, ESTA PALAVRA TUCANA… CHAMO MESMO É DE GENOCÍDIO, POIS É MATAR UM BAIRRO POPULAR, E QUEREM COMEÇAR POR AQUI, ISTO SERIA APENAS A PONTA DE LANÇA. VOU VENCER. TENHO MUITO APOIO… ESSA COISA DE QUERER CONSTRUIR MUITA TORRE É UMA COISA FREUDIANA, UMA COISA FÁLICA
ESTA NÃO SERÁ UMA LUTA CONTRA MOINHOS IMAGINÁRIOS. ESTE HOMEM EXTRAORDINÁRIO LIDA COM DADOS, FATOS E HISTÓRIA. QUER DEIXAR UM LEGADO MAIOR DO QUE O QUE JÁ COMPÔS
Em sua saga para impedir que Silvio Santos cumpra esse projeto, Zé Celso já se reuniu com diversas figuras públicas. A última reunião para tratar deste assunto (até o fechamento desta matéria) foi em junho de 2017, onde estiveram presentes Marília Gallmeister (arquiteta ligada ao Oficina), Valéria Rossi (vice-presidente do Condephaat, órgão que terá que reavaliar a questão depois que o Iphan autorizou um projeto imobiliário do Grupo SS diferente do liberado pelo próprio Condephaat em 2016) e o novo secretário de Cultura do Estado de São Paulo, Romildo Campello. Nessa reunião, a arquiteta ressaltou que, quando os órgãos de defesa do Patrimônio Histórico, Turístico e Cultural avaliaram a proposta da Sisan (o braço imobiliário do Grupo Silvio Santos), não analisaram a relação que poderia vir a ter com os outros bens tombados na mesma área – além do Oficina, a Casa de Dona Yayá, o Castelinho do Brigadeiro, a Escola Primeiras Letras e o TBC. “Nunca foi analisado esse empreendimento na perspectiva desses outros bens tombados”, disse Marília. O bairro do Bixiga, original destino de imigrantes italianos na primeira metade do século 20, é considerado o berço do teatro moderno brasileiro (no mesmo bairro está o teatro Ruth Escobar, outro pioneiro nas montagens teatrais modernas).
Num desabafo inflamado, Zé Celso disse para a vice-presidente do Condephaat que “durante 37 anos, o Silvio não conseguiu construir no terreno. E depois de 2016, conseguiu. Por quê? Porque teve o golpe de Estado que cortou educação, cortou saúde, cortou cultura, e deu tudo para o capital financeiro. Sem o golpe, Silvio Santos teria aceitado a troca do terreno – ele estava disposto a trocar, mantinha um diálogo ótimo. Mas, depois, ele teve acesso ao projeto [imobiliário] de revitalização do Bixiga, esse projeto do Doria e do Alckmin, e mudou” (nota: foram oferecidos a Silvio Santos 90 terrenos públicos na cidade em troca desta área). A essa altura do encontro, Campello teria dito querer saber mais sobre as tratativas com Silvio Santos, e pediu uma cópia da defesa feita pelo Teatro Oficina para estudar o caso, e, a partir deste, fazer um diagnóstico, do que poderia efetivamente ser feito. Ou seja – novamente, nada resolvido.
Enquanto a tarde caía naquela área disputada – e eu já querendo montar um grupo para cercar e defender os domínios do oficina das nefastas intenções do mais longevo personagem da tevê brasileira –, Zé continua sua fala sem tropeços nem buracos no discurso: “Minha geração viveu o desbunde: teve a luta armada, mas a gente não queria pegar em armas, a gente desbundou, e isso operou uma revolução no corpo. “O Rei da Vela” era isso: uma visão diferente do mundo, uma cosmopolítica. Agora, 50 anos depois, vou remontar esta peça para mostrar como ela é atual. A peça foi escrita em 1933, na ascensão do nazismo, do fascismo, do stalinismo, e foi publicada em 1937, numa época reacionária. Anos depois vejo aquela multidão toda que foi às ruas, indignada com o patinho. Isto referendou o poder para essa gente, para destruírem tudo o que foi conquistado, direitos históricos que constituíram a cara do Brasil, o país que é a alegria, que tem uma beleza fértil, maravilhosa. Em janeiro, foi o aniversário de Oswald de Andrade, e ele afirmava num dado momento que não era mais modernista, era o primeiro poeta pós-modernista do mundo. Mas o pós-moderno dele não era essa coisa vintage. Há uma coisa da mudança da cabeça, do arcaico, da cabeça do guru, uma verdadeira revolução copernicana, e, com ele, com estes pensamentos, minha geração descolonizou o Brasil”.
Pouco mais de duas horas depois eu já sabia das ideias de Zé para o futuro. Vai remontar “O Rei da Vela”, vai remontar “Roda Viva”, quer fazer e acontecer, mas não quer dinheiro, não acredita no “poder”. Acredita na ética, no gozo, no corpo, na libertação, na maconha. “Então libera… Eu fumo há 50 anos, cara! Eu sou a prova palpável, tenho uma mente lúcida [aqui acrescento uma memória invejável]. A maconha é totalmente ligada ao cérebro emocional, ao cérebro arcaico, ela ‘faz a cabeça do corpo’! É uma coisa que a natureza deu para os seres humanos experimentarem, para terem a natureza dentro do corpo!”
Zé cantou um trecho de “Sampa”, de Caetano, para mim, e declamou um trecho de “O Rei da Vela”. Sua força é xamânica, seus argumentos, precisos, e sua capacidade de encantar é uma certeza absoluta. Ele está certo quando diz “eu vou vencer”. Evoé, José Celso Martinez Corrêa – você já venceu.
ARTHUR CASAS
STUDIO ARTHUR CASAS
“Pouca gente sabe, mas o Teatro Oficina, antes da Lina, havia sido projetado por Joaquim Guedes, e depois por Flávio Império, após o incêndio em meados dos anos 1960. O projeto da Lina, portanto, foi uma resultante da necessidade espacial das montagens do grupo liderado por Zé Celso, algo que transgredia o clássico palco italiano, ou o de arena, criando outras possibilidades de encenação, em que interno e externo poderiam se fundir, em que uma nova relação entre palco/plateia, ator/espectador estava sendo criada. A localização é uma região historicamente ligada à dramaturgia por conta da proximidade com o TBC, onde a cidade cresceu de maneira expressiva e, apesar disso, manteve as características do bairro operário que foi no início do século passado. É natural que o Zé Celso se sinta incomodado com a possível presença de arranha-céus de classe média no terreno adjacente, um provável início de gentrificação daquela área. Em 1984 começou a demolição do antigo teatro projetado por Flávio Império, que inclusive faleceu no ano seguinte. Tive vários encontros com o Flávio por conta da minha tese na FAU Mackenzie, que era a criação da estrutura cênica para um teatro popular itinerante. Nesse período, um fotógrafo muito amigo meu, o Ancar, com quem eu dividia uma casa na Bela Vista, recebeu a ‘encomenda’ do Zé Celso de registrar a demolição do antigo edifício. O Zé inclusive frequentava muito a nossa casa, que era bem animada (risos). Era o tempo da câmera analógica, da pré-história do mundo digital, e temo que esse material tenha se perdido.”
MARCIO KOGAN
STUDIO MK27
“15h30. Minhas mãos suadas empurram o puxador da porta azul, aos poucos levanto o olhar e, tomado pela emoção, vejo aquele espaço que há muito tempo não via. Lentamente caminho pela ‘rua’ e, no final, do lado direito, está sentado o mítico José Celso. Cumprimento-o e começamos uma longa conversa sobre a polêmica envolvendo o Teatro Oficina e o terreno vizinho. Emocionado, ouço uma história de uma árvore que Lina plantou e já preenche toda a grande janela. As pretensões do Zé Celso quanto ao terreno são obviamente exageradas, mas concordo 100% com tudo. João Doria, seria incrível dar à Bela Vista uma praça, que faz tanta falta ao bairro, e concretizar os sonhos de dois gênios: Lina e Zé. A arquitetura, o teatro e o povo agradecem. Não perca esta chance, João!”
MARCELO SUZUKI
ARQUITETO E URBANISTA
“Não só no projeto para o Teatro Oficina, mas toda a obra de Lina no panorama da arquitetura mundial reposiciona o moderno em uma posição já postulada – mas que ficou minoritária no pós 2ª Guerra Mundial – de assumir o absoluto despojamento contra uma certa retomada luxuosa mesmo com o racionalismo e o International Style. O projeto do Oficina é um desses. Na proposta dela seria uma tenda que poderia ser removida e recolocada, como fazem os artistas de circo, nômades. Retoma também outros postulados do moderno, abandonados ou relevados pela internacionalização, de interpretação do local com olhar atento, vigilante, na busca de dados e informações relevantes a serem incorporados na postura moderna, viva, atuante. Isto tornaria a arquitetura e o design brasileiros ponta de lança de uma reformulação do comportamento mundial. Lina projetou a tenda contida rigorosamente nos limites do lote original, que era uma casa comum do Bixiga (ou Bexiga, existem versões para as duas grafias), já inúmeras vezes reformadas e, como teatro, uma vez pelo arquiteto Joaquim Guedes (que se incendiou), e outra pelo arquiteto Flávio Império. Porém ela não respeitava o limite para aberturas de iluminação e ventilação, mas em seu projeto isto não tinha importância, uma vez que se tratava de uma “tenda de circo”: circos não têm e não precisam de janelas. O projeto definitivo teve o desenvolvimento competente do arquiteto Edson Elito, sob a constante ação de José Celso para o resultado definitivo. Lina propunha uma relação negociada com o Grupo Silvio Santos. Achava que haveria uma brecha boa se da negociação resultasse um espaço para o Grupo Oficina utilizar a televisão. Que este veículo, tevê, era imprescindível para uma transformação/revolução da arte e da cultura popular brasileiras, que seria uma bela ‘invasão’, como Glauber Rocha tinha conseguido anos antes. Mas ninguém do Oficina era a favor disso, e Lina, parceira do Grupo, acatou e fez os croquis iniciais do Teatro.”
MARTIN CORULLOM
METRO ARQUITETOS
“A história do Teatro Oficina é riquíssima e sempre foi muito relevante no cenário cultural brasileiro. Tem um aspecto que me interessa particularmente que é a relação bastante íntima do seu projeto cultural com o espaço físico construído, da parceria criativa do Zé Celso com vários arquitetos, especialmente com Lina Bo Bardi. Foi reconstruído algumas vezes no mesmo lugar – com projetos de Joaquim Guedes e de Flávio Império, mas uma das passagens mais radicais dessa associação entre performance cênica e um edifício foi a ‘Selva das Cidades’, de Brecht, em que o cenário proposto por Lina era construído ao longo da temporada com os materiais que vinham do ato de demolição do próprio Teatro. Grande parte desse percurso foi percorrido durante a ditadura militar, e em confronto com as visões que esse estado representava. É, portanto, até hoje, um exercício permanente de fricção entre arte, arquitetura e política. Nada mais sintomático, e, ao mesmo tempo, oportuno, que agora, nestes tempos estranhos, esses conflitos se acirrem. As formas de manifestação das forças culturais, econômicas e políticas se transformaram nestes últimos anos, mas os conflitos se mantêm. A partir da última configuração do Teatro Oficina, concebida por Zé Celso e Lina e realizada por Edson Elito, a cidade entrou em cena de vez na agenda cultural que eles representam. O Bexiga, e a via elevada que cortou o bairro e passa em frente à sua porta, viraram suporte e tema de muitas de suas obras. Como uma rua interna, longa passarela, o Teatro é entendido nas encenações do grupo, metaforicamente e de fato, como uma passagem da cidade para o interior do bairro e de sua história, com todo o potencial de atuação, irradiação e transformação que a arte pode ter no espaço público. Tive a oportunidade de acompanhar de perto essa atuação quando o atual edifício foi inaugurado e colaborei com ‘Ham-Let’ e, depois, fiz os cenários da peça ‘As Bacantes’. A atual disputa entre o grupo Silvio Santos, com o projeto de um grande empreendimento imobiliário, e o projeto do Zé Celso, de transformação da sociedade e seus espaços pela arte, representa para mim um embate complexo e muito interessante entre continuar reproduzindo do mesmo modo a cidade que construímos até aqui e a possibilidade de encontrar novos modos de produzir um espaço também novo. Ambos trazem riscos para o conjunto dos que vivem por aqui, mas sem dúvida me interessa mais pensar o novo e contribuir para que se torne realidade, afinal, por absurdo, quem faria do zero uma cidade como São Paulo?”
MILTON BRAGA
MMBB
“O Oficina é possivelmente o exemplo mais eloquente de uma das maiores qualidades da Lina e que tem influenciado bastante a arquitetura brasileira: pensar seus projetos com absoluta atenção aos problemas de cada um deles e, com a isenção e originalidade (de quem vai a origem do problema) decorrentes, formular soluções ao mesmo tempo oportunas e surpreendentes. Lina inventou um espaço cênico único e intrigante, que resultou do aproveitamento inteligente das condições dadas e que construiu inusitadas relações espaciais e funcionais no próprio edifício e dele com a cidade. A tradição cultural e a grande vitalidade urbana do Bexiga – lugar notório por suas calçadas animadas, uso misto e edifícios apegados às ruas – foram, sem dúvida, determinantes para o projeto do Teatro Oficina, sobretudo no que se refere à marcante abertura com que ele se oferece ao espaço vizinho. Esse entorno imediato, que se encontra agora em grande medida constituído de terrenos baldios e subutilizados, deve ser urgentemente reocupado, a fim de recuperar, em versão obviamente contemporânea, suas qualidades originais; e isso só será possível através de um desenvolvimento urbano e imobiliário inteligente: cuidadoso e atento à presença do Teatro Oficina e comprometido com a construção da cidade densa, mista, plural e viva.”
LUA NITSCHE
NITSCHE ARQUITETOS
“A pergunta sobre a inserção do projeto Teatro Oficina no panorama da arquitetura moderna brasileira é muito pertinente e importante, daria uma bela dissertação de mestrado. Mas não é preciso estudar ou pesquisar muito para sentir a pulsação vital nas obras da Lina, né? Se o projeto para todo aquele terreno do Silvio Santos, que circunda o teatro, fizer do Oficina um coração, lindo. O efeito será transformador, vai irradiar vida para todo o bairro da Bela Vista. Arquitetos paulistanos que poderiam resolver este projeto não faltam; temos que manter a luta por um projeto capaz de alastrar o Oficina para o quarteirão e jamais seguir a ordem do lucro financeiro.”
EDUARDO CORREIA
EFC ARQUITETURA
“O Teatro Oficina, este patrimônio histórico, cultural, arquitetônico e artístico, traz consigo duas possibilidades para seu entorno ainda não edificado. Um parque para o Bixiga e suas imediações ou a construção de três torres residenciais. Dada esta questão, me pareceu mínima e urgente a ação de reunir escritórios representativos da arquitetura contemporânea brasileira para ressaltar a importância paradigmática do Teatro Oficina, Lina Bo Bardi, José Celso Martinez Corrêa e o bairro do Bixiga. Entrei em contato com Allex Colontonio, que prontamente disponibilizou este espaço na revista POP-SE para que nos reuníssemos no teatro, nós, arquitetos, o diretor José Celso e o fotógrafo Rui Mendes e registrarmos este breve manifesto a favor do Teatro Oficina e seu entorno, sua história para o Bixiga, para o teatro brasileiro e para a cidade de São Paulo.”
DURANTE 37 ANOS, O SILVIO [SANTOS] NÃO CONSEGUIU CONSTRUIR NO TERRENO. E DEPOIS DE 2016, ELE CONSEGUIU. POR QUÊ? PORQUE TEVE O GOLPE DE ESTADO, QUE CORTOU EDUCAÇÃO, CORTOU SAÚDE, CORTOU CULTURA, E DEU TUDO PARA O CAPITAL FINANCEIRO